Ilha Grande recebe mais um título Internacional
- Admin
- 19 de mar.
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A Ilha Grande (município de Angra dos Reis, RJ) é reconhecida como um cenário de belezas naturais, praias paradisíacas e pontos turísticos nos roteiros internacionais e nacionais. Em 2019, foi reconhecida pela UNESCO como Patrimônio Mundial e Cultural. Em dezembro de 2024, ganhou mais um título internacional como Área de Importância para a Conservação dos Morcegos (AICOM). As AICOMs servem como ferramentas para a proteção de morcegos independente do status de ameaça. Esse título é concedido pela Rede Latino-americana e do Caribe para Conservação dos Morcegos (RELCOM), que reconhece áreas que atendem um ou mais dos seguintes critérios:
1) Presença de espécies de interesse nacional ou regional para conservação;
2) Existência de refúgios utilizados por uma ou mais espécies de interesse para conservação e
3) Alta diversidade de espécies, independentemente do seu nível de ameaça.
As AICOMs abrangem territórios que garantem a sobrevivência das populações de morcegos ao longo do tempo. Para essa designação, são considerados fatores como pressão antrópica sobre o ambiente, perda e fragmentação do habitat, crescimento populacional humano, poluição ambiental e infraestrutura, entre outros.
Ilha Grande - uma das áreas com a maior riqueza de morcegos do Estado do Rio de Janeiro

São 37 espécies reconhecidas de morcegos para a ilha, o que representa 19,9% das espécies conhecidas no Brasil; 37,8% das espécies da Mata Atlântica e 46,8% das espécies registradas no estado do Rio de Janeiro. São espécies com diversos hábitos alimentares, comem frutas, néctar, insetos, pequenos vertebrados e sangue. Atuam como dispersores de sementes, polinizadores e reguladores de populações de insetos, por exemplo.
As espécies de interesse para conservação na Ilha Grande incluem: Furipterus horrens, classificada como Vulnerável na lista brasileira de espécies ameaçadas de extinção; Lonchophylla peracchii, reconhecida como endêmica da Mata Atlântica; Myotis nigricans e Myotis izecksohni, ambas endêmicas da Mata Atlântica, sendo que a última é considerada Deficiente de Dados pela IUCN; e Tonatia bidens, também classificada como Deficiente de Dados pela IUCN.
A integração na ciência para a conservação

O título de AICOM para a Ilha Grande só foi possível devido ao esforço de diversos pesquisadores que atuaram (e continuam atuando) na ilha. Os pesquisadores possuem o apoio do Centro de Estudos Ambientais e Desenvolvimento Sustentável (CEADS) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) que há mais de 25 anos apoia as pesquisas na ilha. O levantamento das 37 espécies de morcegos resulta de mais de 30 anos de estudos na Ilha Grande. As pesquisas começaram em 1993 com o Dr. Carlos Esbérard, que, junto a outros pesquisadores, publicou a uma lista de espécies em 2006.
Mais recentemente, esse trabalho passou a integrar o Programa de Pesquisas em Biodiversidade da Mata Atlântica (PPBioMA), uma iniciativa voltada para o monitoramento e geração de dados padronizados sobre a biodiversidade da Mata Atlântica. O PPBioMA faz parte de um projeto nacional do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que busca aumentar o conhecimento sobre a biodiversidade brasileira. Além de otimizar a coleta de informações ecológicas e promover a integração entre pesquisadores de diferentes instituições. Esse programa permitiu a aplicação da metodologia RAPELD, um sistema de amostragem padronizado desenvolvido para monitorar a biodiversidade em larga escala. A metodologia combina trilhas de acesso a módulos para levantamentos rápidos (RAP), com um arranjo sistemático de parcelas permanentes (PELD), permitindo análises ecológicas de longo prazo. A implementação do RAPELD na Ilha Grande possibilitou a exploração de áreas remotas e de difícil acesso, onde espécies mais sensíveis à antropização são mais frequentes. O Instituto Estadual do Ambiente (INEA) teve um papel fundamental nesse processo, concedendo as autorizações para a realização das pesquisas e fornecendo suporte aos cientistas envolvidos.
O projeto também só foi possível devido a Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) que financiou duas bolsas com taxa de bancada de pós-doutorados, e bolsas de Cientista do Nosso Estado de parte da equipe. A Dra. Luciana M. Costa, coordenadora da pesquisa entre os anos de 2014 e 2019, (foi bolsista PAPDRJ – FAPERJ e CAPES) investiu no esforço de amostragem em campo e na compilação de dados pretéritos, com busca de material testemunho nas coleções científicas para assegurar evidências dos registros de espécies e contou ainda com a parceria da taxonomista Dra. Daniela Dias para verificação do material testemunho, assegurando a validade dos registros das espécies ocorrentes na Ilha Grande.
A Dra. Helena de Godoy Bergallo coordenadora do Laboratório de Ecologia de Mamíferos (LEMA) da UERJ (Departamento de Ecologia, Instituto de Biologia Roberto Alcantara Gomes) participa de mais de 20 anos de pesquisas com morcegos na ilha. Durante esse tempo, no LEMA, diversos trabalhos foram concluídos nos quais utilizaram dados que envolveram os morcegos da Ilha Grande, sendo ao menos três trabalhos de conclusão de curso, dois mestrados e três doutorados, além de mais de dez artigos científicos publicados.
Próximos passos

O título de AICOM reforça internacionalmente o que as pesquisadoras envolvidas já sabiam – a importância da Ilha Grande para a conservação. Através do PPBioMA continuaremos o monitoramento dos morcegos. O monitoramento de longo prazo é essencial para detectar possíveis mudanças ao longo do tempo, especialmente aquelas relacionadas às mudanças climáticas. Então, continuaremos com as amostragens e é possível que ainda haja espécies a serem registradas na ilha. Além disso, o título reforça a necessidade da atuação de educação ambiental e de divulgação científica na ilha, principalmente reforçando a parceria da UERJ com a comunidade.
O LEMA tem atuado desde 2016 em parceria com o Projeto Morcegos na Praça (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro) para a desmistificação dos morcegos, mas também com informações sobre saúde, importância ecológica e sanitária dos morcegos e principalmente sobre a atuação dos pesquisadores da UERJ na Ilha Grande, discutindo ciência, atuação e buscando parcerias com a população local. Reforçaremos nossa atuação educacional junto ao CEADS e ao INEA para divulgar esse novo título que busca essencialmente trazer visibilidade aos morcegos e atuação conjunta para a conservação deles e do ambiente.
Saiba mais sobre AICOMs
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